Dançarinas de Oswald – dezembro 2019

Ausente da Semana de Arte de 22, a dança foi marcante na vida de Oswald.

A jovem Landa Kosbash, que ele conheceu em sua primeira viagem à Europa, em 1912, foi uma de suas grandes paixões. Para aproximar-se dela, Oswald propôs à avó da jovem dançarina, que a acompanhava, um oportuno apadrinhamento: batizou Landa no Duomo de Milão.

Por volta de 1914, Landa retornou ao Brasil. Padrinho apaixonado, Oswald promoveu sua carreira, patrocinando ensaios e apresentações. Em outubro de 1916, a bailarina que estudara no Scalla, dançou no Municipal do Rio de Janeiro, apenas um mês após as célebres apresentações de Isadora Duncan.

Com Isadora, Oswald conviveu durante uma semana em São Paulo. O encontro partiu de um convite dela: após o espetáculo, um jantar no hotel. Nesse encontro, Oswald, intimidado, cometeu a famosa gafe: mostrou a Isadora uma fotografia de Landa em uma desastrada tentativa de promover a carreira artística da jovem dançarina.

A relação entre Landa e Oswald foi longa e aventurosa. Percebendo-a como Dulcinéia, ele planejou raptos quixotescos para libertá-la dos avós, que supostamente lhe infligiam abusos e maus-tratos. Falhando os planos de rapto, restou a Oswald ampará-la em rumoroso processo judicial que resultou na destituição de seus tutores.

Oswald desejava casar-se com Landa, porém, assim que o juiz proferiu a sentença, ela fugiu do fórum pelas portas dos fundos e se internou em um colégio de freiras, pondo fim ao dramático romance no início de 1917. Em 1950, entusiasmado com meus rodopios infantis, Oswald profetizou: “minha filha irá dançar como Isadora Duncan!”. Encaminhou-me ao estudo do balé clássico com a conceituada professora Carmen Brandão.

Foi o início de minha paixão pela dança, que ainda perdura. Atingi maturidade artística quando abandonei a técnica clássica e Isadora Duncan cruzou meu caminho. Identifiquei-me profundamente com seus ideais e aperfeiçoei-me em sua técnica, recriando suas coreografias.

Por volta de 1990, soube que Landa ainda existia. Mudara de identidade, casara-se e tornara-se professora de dança com o nome de Carmen Brandão.

Landa? Seria ela a mesma senhora que me ensinara os primeiros passos de balé?

Reencontrei casualmente Carmen Brandão, que estava com quase 90 anos. Sentei-me diante dela, apresentei-me como sua ex-aluna e disse-lhe meu nome completo. Ela permaneceu em silêncio. Perguntei-lhe diretamente: “a senhora foi a Landa?”. Respondeu:

-Landa já não existe..., mas seu pai me batizou no Duomo de Milão.

Antonieta Marília de Oswald de Andrade

(PUBLICADO NA FLIP EM HOMENAGEM A OSWALD DE ANDRADE– 2011)